Ao longo de seis anos de projeto, o Programa de Restauração acumulou um conjunto expressivo de informações importantes para subsidiar planos de restauração em ambientes de restinga no âmbito de aspectos ecológicos, técnicos e de políticas públicas.
A primeira iniciativa foi a construção do Viveiro Jundu e o levantamento das características de germinação e de produção de mudas de espécies de restinga. Essa iniciativa foi muito bem sucedida nos anos em que o viveiro esteve sob o gerenciamento do LabTrop/ConservaRestinga, chegando à produção de aproximadamente 40.000 mudas de 83 espécies de restinga. As mudas produzidas pelo viveiro Jundu foram utilizadas em vários projetos de pesquisa do Programa Ecologia e nos projetos de plantio de restauração nas áreas plantadas e monitoradas pelo LabTrop/ConservaRestinga.
Os plantios de restauração desenvolvidos pelo Programa de Restauração tiveram como objetivo principal fazer a junção entre a prática da restauração e a pesquisa básica sobre fatores limitantes e processos importantes no ambiente de restinga. Nesse sentido, todos os projetos visaram testar se a escassez de nutrientes (característica marcante dos solos de restinga) era um limitante ao estabelecimento das mudas e se o plantio de mudas em núcleos (simulando moitas características de ambientes de restinga arbustiva) favorecia o desenvolvimento das mudas em função das melhorias das condições microclimáticas ou se prejudicava as mudas em função da competição com as outras espécies. Os primeiros plantios testaram também se a escassez de água era um limitante ao estabelecimento das mudas. Os resultados obtidos nos experimentos realizados com esses plantios e em alguns estudos experimentais em casa de vegetação nos forneceram importantes informações sobre aspectos biológicos e ecológicos da estruturação de comunidades de plantas em restinga. Além dos aspectos ecológicos, alguns projetos do Programa de Restauração também produziram informações técnicas importantes e úteis para o estabelecimento de políticas públicas.
- Freitas, J.D., Bertoncello, R., Oliveira, A. A., Martini, A. M. Z., 2016. Where do seedlings for Restinga restoration come from and where should they come from? Natureza & Conservação, v. 14, p. 142-145.
Obs.: Esse artigo está originalmente publicado em inglês na revista Natureza & Conservação e a publicação em português nessa página foi autorizada pela ABECO, detentora dos direitos autorais.
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De onde vêm as mudas para a restauração de Restinga e de onde deveriam vir?
Julia Dias Freitas, Ricardo Bertoncello, Alexandre A. Oliveira & Adriana M. Z. Martini
Resumo Em um estudo elaborado para quantificar a produção de mudas produzidas a partir de sementes coletadas na vegetação de Restinga, encontramos apenas seis dos 122 viveiros pesquisados em São Paulo produzindo mudas oriundas desse ambiente e o número total de mudas comercialmente produzidas foi relativamente baixo. Posteriormente, comparamos esse número com o número de mudas legalmente compromissadas em projetos de restauração das cidades costeiras do estado de São Paulo. Verificamos que a produção local de mudas representa apenas um terço (32%) das mudas legalmente compromissadas. Dada esta discrepância entre produção e demanda, presumimos que a maioria das mudas usadas em projetos de restauração em cidades costeiras foram provenientes de outras regiões. Diante disso, discutimos alguns aspectos do debate sobre a introdução de mudas exógenas em projetos de restauração, destacando-se as recomendações recentes da literatura para ecossistemas singulares, como a vegetação de Restinga, situada na planície costeira. Destacamos alguns possíveis efeitos negativos sobre o sucesso da restauração ecológica em longo prazo e apresentamos algumas ações políticas alternativas como encorajar a produção local de mudas ou registrar a procedência de mudas.