Essa introdução aos GLM é a mesma do tutorial Modelos Lineares Generalizados: binomial, caso já tenha feito, pode passar diretamente para o tópico GLM: contagem
Os modelos lineares generalizados (GLMs) são uma ampliação dos modelos lineares ordinários. Os GLM's são usados quando os resíduos (erro) do modelo apresentam distribuição diferente da normal (gaussiana). A natureza da variável resposta é uma boa indicação do tipo de distribuição de resíduos que iremos encontrar nos modelos. Por exemplos, variáveis de contagem são inteiras e apresentam os valores limitados no zero. Esse tipo de variável, em geral, tem uma distribuição de erros assimétrica para valores baixos e uma variância que aumenta com a média dos valores preditos, violando duas premissas dos modelos lineares. Os casos mais comuns de modelos generalizados são de variáveis resposta de contagem, proporção e binária, muito comum nos estudos de ecologia e evolução.
Devemos considerar os GLMs principalmente quando a variável resposta é expressa em:
Uma das formas de entendermos os modelos generalizados é separar o modelo em dois componentes: a relação determinística entre as variáveis (resposta e preditora) e o componente aleatório dos resíduos (distribuição dos erros). Em um modelo linear ordinário a relação entre as variáveis é uma proporção constante, o que define uma relação funcional de uma reta. Quando temos uma contagem, essa relação pode ter uma estrutura funcional de uma exponencial. Para esses casos, os modelos generalizados utilizam uma função de ligação log
para linearizar a relação determinística entre as variáveis. Portanto, a estrutura determinística dos modelos GLM's é definida por um preditor linear, associada à função de ligação.
O componente aleatório dos resíduos, no caso de uma variável de contagem, segue, em geral, uma distribuição poisson. A distribuição poisson é uma variável aleatória definida por apenas um parâmetro (λ), equivalente à média, chamada de lambda
. A distribuição poisson tem uma característica interessante, seu desvio padrão é igual à média. Portanto, se a média aumenta, o desvio acompanha esse aumento e a distribuição passa a ter um maior espalhamento.
O preditor linear está associado à estrutura determinística do modelo e está relacionado à linearização da relação, aqui definido como η:
η=α+βx
A função de ligação é o que relaciona o preditor linear com a esperança do modelo:
η=g−1(E(y))
Ou seja, nos modelos generalizados não é a variável resposta que tem uma relação linear com a preditora, e sim o preditor linear que tem uma relação linear com as preditoras.
Para alguns tipos de famílias de variáveis temos funções de ligações padrões. As mais usadas são:
Natureza da resposta | Estrutura dos resíduos (erro) | Função de ligação |
---|---|---|
contínua | normal | identidade |
contagem | poisson | log |
proporção | binomial | logit |
Os modelo GLM poisson e binomial apresentam a variância acoplada à média dos valores, diferentemente dos modelos com distribuição normal onde a média e a variância são independentes. Caso haja uma variação maior ou menor nos dados do que o previsto por essas distribuições, o modelo não consegue dar conta. Essa sobre-dispersão ou sub-dispersão dos dados indica que temos mais ou menos variação do que é predito pelos modelos. Isso pode ser decorrência de vários fontes de erro na definição do modelo, alguns exemplos são:
Soluções para a sobre-dispersão e acumulo de zeros
A solução mais simples para lidar com a dispersão são os modelo quasipoisson e quasibinomial, que estimam um parâmetro a mais, relacionando a média à variância, o parâmetro de dispersão. Entretanto, os modelos quasi
dão conta apenas de dispersões moderadas e não indicam qual a fonte dela.
Há algumas alternativas ao modelo quasi
para a dispersão dos dados, alguns deles estão listados abaixo:
Não é objetivo deste curso mostrar todas essas alternativas, mas caso se deparem com esse problema, muito frequente na área da biológica, saibam que existem alternativas robustas para solucioná-lo.
Variável resposta binária é um caso especial da binomial com apenas uma tentativa, chamado de distribuição de Bernoulli, e não tem problema com sobre-dispersão
Um exemplo, apresentado no livro do Michael Crawley, The R Book, relata a contagem de espécies de árvores em unidades amostrais de florestas com diferentes biomassa e classificadas em três níveis de ph no solo: baixo, médio e alto. O objetivo desse experimento não manipulativo é verificar se há relação entre riqueza de árvores e as preditora biomassa da floresta e ph do solo.
ATIVIDADE
lm
) para esse dados, tendo como variável resposta a riqueza de espécies(Species
) e como preditoras o pH
e Biomass
e as interações possíveis.pH
com Biomass
de 3.2pH
com Biomass
de 15.5pH
com Biomass
de 7.1glm
) e com family = poisson
. p-valor
na comparação de modelos por anova, copie a linha de código que foi utilizada com anova(…)
e cole novamente incluindo anova(…, test=“Chisq”)
glm
.glm
utilize os coeficientes estimados pelo modelo. log
como função de ligação, para retornar a escala da observação devemos utilizar o antilog, no caso, a função exponencial.No menu Graphs, selecione XY conditioningh Plot e selecione as varíáveis, definindo ph como variável de agrupamento, como no gráfico abaixo.
No menu Models>Graphs selecione Predict effect plots… e selecione as variáveis.
Ordenando uma categórica
O padrão do R é ordenar as variáveis categóricas por ordem alfabética. No exemplo seria desejável reordenar a variável categórica ph
em uma categórica ordenada low>medium>high
.
ph
utilizando o menu Data>Manager variable in active data set> Reorder factor levels
factor
com o nome phF
na caixa factor name
e selecion a caixa Faça fator ordenado
, em seguida clique em OK
;1
, 2
e 3
nas caixas dos níveis low
, medium
, high
Vamos utilizar um exemplo que está presente no livro de W. Venables e B. Ripley, Modern Applied Statistics with S-PLUS2), sobre o número de dias ausentes da escola de crianças na Austrália.
No Rcommader (Rcmdr) vá ao menu Tools > Load package(s) e selecione o pacote MASS
.
Caso o pacote não apareça listado, significa que ele já está carregado, então pule esse passo.
Em sequida:
Os dados estão relacionados ao estudo para entender quais variáveis estão relacionados à ausência (falta) do aluno na escola. A observação está relacionada a alunos amostrados aleatoriamente de escolas na Austrália.
O pacote RcmdrPlugin.KMggplot2 é um plugin para Rcmdr que amplia as funções gráficas da interface. Instale o pacote copiando o comando abaixo no box superior do Rcmdr:
install.packages("RcmdrPlugin.KMggplot2")
Em seguida, garanta que o cursor do mouse está na linha de comando e clique no botão Submit. Na janela que ira se abrir selecione o repositório Brasil(SP1).
Para ativar o plugin selecione o menu Tools> Load Rcmdr plug-in(s)… e em seguida selecione o pacote RcmdrPlugin.KMggplot2
.
Atividade
Para nosso exercício vamos deixar de lado a variável Lrn
por que há dados faltantes nela com relação a outras variáveis. Vamos construir o modelo cheio com a variável resposta Days
e com as variáveis preditoras (Eth
, Sex
, Age
) e todas as possibilidades de interações entre elas. Como estamos tratando de uma variável de contagem podemos partir direto para um modelo GLM indicando a família de distribuição de resíduos POISSON e a função de ligação log.
Days ~ Eth + Sex + Age + Eth:Sex + Eth:Age + Sex:Age + Eth:Sex:Age
Um dos pressupostos do modelo Poisson é que a variância aumenta linearmente com a esperança (média do modelo). Podemos avaliar isso dividindo a Residual Deviance
pelo seu degrees of freedom
. Essa razão deve ser próxima a 1. O que não é o caso do nosso modelo. Nesses casos uma das alternativas é:
quasipoisson
quasipoisson
;Residual deviance
e os respectivos degrees of freedom
; F2
F2
F3
F3
O gráfico do modelo pode ser obtido no Rcmdr da mesma forma indicada no modelo anterior, no menu: Models>Graphs selecione Predict effect plots… e selecione as variáveis.